A
SINA DE UM PAI
Autor: Nelsi Glienke
Tema: Dia dos Pais –
Educação dos filhos
Personagens: Pai Henrique, Mãe Luiza, Filhos:
Paulo, Roberto, João, Artur, Antônio, Nora e Neto
Tempo aproximado:
20 a 30 minutos
Sinopse: Pai reflete sobre a educação que deu a seus
filhos, anos depois, já velho, precisa de um lugar para morar, nenhum filho
quer recebê-lo, um filho o recebe, mas a nora não gosta e o expulsa até que seu
filhinho diz que vai fazer a mesma coisa com ela quando for velha, então eles
buscam o avô para morar com eles.
Mãe - (No palco, o Pai idoso. A mãe entra e o
abraça) Feliz dia dos pais.
Pai - Obrigado,
querida. Na realidade eu não estou tão feliz. Eu estava refletindo quando os
nossos filhos eram pequenos, como era bonito esse tempo. Os 5 filhos, assim
como 5 dedos de uma mão. Cada dedo diferente um do outro. Assim também são os
nossos filhos, diferentes um do outro. Deram problemas diferentes, cada um
tinha atitudes diferentes, e cada um seguiu uma profissão diferente.
Mãe - Isso é verdade!
Mas eles não são como eu gostaria que fossem: amorosos, felizes e
compreensíveis.
Pai - Eu também já
pensei nisso. Será que um deles vai vir nos visitar hoje? Passa um ano, passa
outro e sempre a mesma coisa. Nenhum deles se lembra que é o dia dos pais. Como
eu me sentiria bem se eles viessem. Eu poderia receber um abraço deles. Será
que esse ano vai ser de novo assim?
Mãe - Talvez venha
alguém!
Pai - Estas atitudes
me deixam triste e pensativos. Onde será que falhamos na educação dos nossos
filhos?
Mãe - Meu velho, não
se incomode. Eu o posso explicar. Eu já previ isto. Conforme os meninos foram
crescendo, eu fui lutando para que fossem diferentes, mas você era o herói
deles. Todos queriam ser iguais ao pai. Pai pra cá! Pai pra lá! Palavras
convencem, mas exemplos arrastam. Você se dedicou a vida toda só para o
trabalho, para dar tudo e fazer tudo por nossos filhos. Lembra quando, aos
domingos, eu o convidava para irmos no culto? Você mandava eu e os filhos, mas
você não tinha tempo para ir conosco na igreja. Tinha que plantar ou colher,
ajuntar dinheiro para fazer dos seus filhos grandes doutores. Eu bem me lembro
quanto ao Paulinho, o nosso filho mais velho. Você dedicou um pouco do seu
tempo para contar-lhe histórias, cantava para ele dormir. Com os outros era bem
diferente. Você voltava do serviço cansado, tarde da noite, reclamava se eles
não estavam dormindo e se faziam bagunça e barulho, tudo o incomodava.
Pai - Realmente é
isto, a minha vida era sacrificada, mas consegui me realizar. Todos estão formados.
Menos o Paulinho.
Mãe - Nada errado na
formação deles, e nunca vou esquecer como você impôs que Paulinho fosse nos
melhores colégios da capital e se formasse um grande médico. Mas a vocação dele
não era esta, por isso saiu de casa e até hoje não nos deu notícias. Eu
descobri o desejo dele, era servir a igreja, ser um missionário. Mas você não
deu valor para isto, achava que isto não era importante, que não recompensava.
Eu acho que Paulinho nem vive mais, eu não agüento mais a sua falta. (Ela sai do palco)
Pai - Que nada.
Paulinho volta um dia. (ele também sai
do palco)
Narrador - Nós, pais,
somos os primeiros educadores dos nossos filhos. Aproveitemos esta
oportunidade, vamos nos integrar com os nossos filhos, ser amigos, conquistar a
sua confiança e o seu amor, ensinar, dialogar, orientar e advertir. Isto é um
compromisso que Deus espera dos pais, e os filhos vos darão valor sempre, em
qualquer idade. (Muitos anos se
passaram. O pai volta bem mais velho)
Pai - Como é triste a
solidão. Eu não suporto mais. Ela já partiu desta vida, e eu não suporto mais
viver assim, sozinho, olhando para as quatro paredes. Eu não tenho com quem
conversar. Eu vou procurar os meus filhos para viver com eles. Qual deles? Vou
com Roberto. (sai do palco. Chega à casa
de Roberto. O pai bate e o filho atende)
- Filho! Criei
você e lhe fiz gente importante. Eu lhe dei todo estudo que precisava para
levar uma vida mais fácil. Hoje ganha a sua vida, e eu já não posso mais
trabalhar e ganhar o meu sustento. Dá-me um abrigo em sua casa!
Roberto - Pai, eu não
posso. A casa que tenho não é grande. Tenho a minha esposa, os meus filhos e a
empregada. Não tem lugar para o senhor. Vai para a casa do João, ele tem uma
casa bem espaçosa. (o pai sai do palco e
vai para a casa do João)
Pai - João, meu
filho. Criei você, trabalhei de sol a sol para que você se formasse médico.
Hoje você ganha bem e eu estou cansado e velho. Não posso mais trabalhar. Dá-me
um agasalho e um cantinho para morar em sua casa!
João - Não! Esta casa
é minha. Fui eu quem construi e ela é linda, a mais bonita desta cidade. Nem
combina para o senhor, com seus pés e mãos calejadas. Aqui não tem lugar para
você morar. O senhor tem outros filhos, vai com eles, vai com o Artur. (o pai sai de cena e vai à casa de Artur)
Pai - Artur, meu
filho. Criei você. Fiz tudo por você. Tudo que eu podia fazer eu fiz. Você
hoje ganha bem, e eu não posso mais
trabalhar. Acolhe-me em sua casa.
Artur - Eu não tenho
mais casa. Fui mal nos meus negócios. Tinha que vender a casa, moro numa casa
alugada. Se eu tiver uma casa de novo é para minha família, e não par você,
velho desse jeito. Vai com o Antônio, seu filho caçula, que sempre se
aproveitou de você. Gastou quase todo o seu capital. Que se vire contigo agora.
(o pai sai de cena e vai à casa do
Antônio)
Pai - Meu filho
Antônio! Criei você e fiz de você um advogado. Era muito sofrido pagar todo o
seu estudo. Hoje você ganha muito dinheiro e eu sou velho e já não posso mais
trabalhar. Deixa-me morar em sua casa!
Antônio - Oh! Pai! O senhor
não está bem da cabeça, nem bate mais direito. Como é que o senhor quer que eu
o coloque na minha casa? Meu pai, eu vou colocá-lo é num asilo.
Pai - Asilo não!
Então eu volto para minha casinha e espero que Deus venha me buscar! (os dois saem de cena. O pai volta para sua
casa. Entra em casa, senta-se e chora)
- Como dói o
desprezo dos próprios filhos. Bem me lembro das palavras da Luiza: Palavras
convencem, exemplos arrastam.
- É, eu plantei
tanto e colhi muito, mas esqueci de plantar no coração dos meus filhos
princípios cristãos, a semente da humildade, do amor ao próximo e da
consideração. Plantei ganância. Estou colhendo aquilo que plantei. Os meus
filhos não sentem nada por mim.
Paulinho - (Paulinho chega à casa do pai) Ainda
bem, meu pai, que o senhor está aqui! Feliz dia dos pais. (abraça o pai)
Pai - Meu filho! Você
ainda vive!
Paulinho - Sozinho Pai? E
a mãe?
Pai - A mãe já partiu
para o além, com aquela idéia de que você já tinha morrido e que ela se
encontraria com você no céu.
Paulinho - O senhor mora
tão sozinho, pai. Por que não vai morar com algum dos seus filhos? Sozinho deve
ser tão triste. (o pai abaixa a cabeça e
chora)
Pai - Meu filho,
ninguém me quer. Eu bati de porta em porta e todos me rejeitaram.
Paulinho - Meu pai, é assim
a sua situação? Que tristeza. Então o pai vai morar comigo. Na minha casa tem
um lugar para o senhor. (o pai abraça o
filho e sorri)
Pai - Pelo menos
você, Paulinho, tem um bom coração.
Paulinho - Arruma sua mala
e vamos. (os dois saem juntos, vão para
a casa do Paulinho e encontram a nora e o neto)
Nora - O que é isto
Paulo? Um estranho em nossa casa?
Paulo - Este é o meu
pai. Filho, este é o seu avô Henrique. (o
neto abraço o avô, o beija e diz:)
Neto - Como estou
feliz em conhecer o meu avô.
Paulinho - Pai, o senhor
deve estar muito cansado da viagem. O senhor quer descansar um pouco? Entra
naquele quarto e deita-se na cama.
Neto - Eu vou com o
vovô.
Nora - Paulo, que
idéia besta você teve de trazer o seu pai morar aqui na nossa casa. Ele é velho
e doente e já não pode mais trabalhar. Serve unicamente para nos dar despesas.
Leve-o daqui.
Paulinho - Mas, minha
querida, entenda! Ele é meu pai. Ele não tem com quem morar. Ele não merece
viver tão sozinho o resto de sua vida.
Nora - Trata de mandar
este velho de volta, eu não quero ter compromisso algum com este velho caduco.
Paulinho - Ana! Ele nem é
caduco. Ele é bem lúcido. Só bastante abatido, porque estava muito sozinho,
vamos dormir.
Narrador - O Quarto
Mandamento nos ordena amar e respeitar os nossos pais, e os tratar com todo
carinho, agradecendo a Deus pelos pais que Ele nos deu. Devemos honrá-los, e
torná-los felizes, e fazer para os nossos pais tudo o que Deus espera de nós. (no outro dia:)
Nora - Paulo, pode
escolher. Ou eu ou seu pai. Se ele não for, eu irei, e comigo irá o nosso
filho. (ela sai de cena)
Paulinho - (fala sozinho) Vou ter que mandar o meu
pai embora, pois a minha mulher tem o gênio muito ruim. Ela falou e o fará. (entra no quarto do pai e o chama)
- Meu pai,
levanta. (o avô e o neto saem do quarto)
Pai - Por que me
chamou tão cedo? Estava tão bom na cama quentinha.
Paulinho - Meu pai, o
senhor vai ter que partir hoje bem cedo, porque é longa a sua viagem.
Pai - Como eu sinto
frio. (bate o queixo e treme)
Paulinho - Ana, traz uma
manta para o pai. (ela traz uma manta
velha e esfarrapada)
- Não tem uma
manta melhor?
Nora - Pode escolher.
Esta ou nenhuma.
Paulinho - Pega, pai. Te
enrola nesta manta para diminuir o frio e vai.
Pai - (pega a manta e vai saindo devagar, falando
sozinho:) Para onde eu vou?
Neto - Vovô, espera um
pouco. Me dá a manta. (ele pega a manta
e a rasga ao meio)
- Pronto! Você,
vovô, pega esta metade.
Paulinho - Meu filho, por
que você fez isto?
Neto - A outra metade
da manta vou guardar para dar a você, meu pai, e a você, minha mãe, quando
ficarem velhos. Então vou mandá-los embora, e darei esta metade da manta para
que se abriguem do frio.
Paulinho - Ana, ouviste o
que o nosso filho falou? Quando chegarmos à nossa velhice, você quer que ele
faça o mesmo para nós?
Nora - Não, não! Nunca
pensei nisto. Como é cruel uma atitude deste tipo. Paulo, corre para alcançar o
seu pai e o traga de volta. Ele pode morar conosco. (Paulinho alcança seu pai e lhe diz:)
Paulinho - Pai, o senhor
pode morar conosco!
Pai - O que? Posso
morar na sua casa, Paulo?
Paulinho - Sim, pode.
Pai - Agora a minha
vida voltou a ter sentido. Encontrei de novo uma família. Este era o meu maior
desejo, ser acolhido por um de meus filhos. Paulo, que Deus lhe recompense
tamanha bondade.
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