A MÁQUINA DE
FAZER VERDADE
Autor: Mauro Ernesto Schmidt
Tema: Escolhas na vida
Personagens:
Inventor, Auxiliar, Jesus.
Tempo aproximado: 30
minutos
Sinopse: Homem inventa a máquina do tempo, viaja por
diversos lugares a procura de dinheiro, fama, mulheres e posição, viaja também
para o tempo de Jesus onde ele está sendo crucificado e não faz nada, até que
um dia tem tudo o que quer e viaja para o futuro para desfrutar o que tinha
conquistado e não encontra nada, só Jesus lhe dizendo: “Quando tive fome, não
me deste de comer...”
Ato único
(Abre o pano - cenário) Dois homens conversam. Um
é o senhor, homem de aparência rude e cansado, outro é um empregado seu, rapaz
diligente e prestativo. Os dois estão trabalhando, enquanto falam, numa espécie
de máquina gigantesca, de bojo grande. Tal máquina fora invenção do senhor,
homem de conhecimento científico aprofundado e eles estavam apenas ajustando os
últimos detalhes no acabamento. Enquanto o seu ajudante permanece calado, o
inventor fala de sua vida passada com amargura. Segundo ele não houve homem
mais frustado em suas tentativas e mais debochado por causa delas do que ele
próprio. “O mundo só soube rir de mim e meus trabalhos”, diz ele, “Eu sou um
fracassado”.
Enquanto a máquina é preparada houve-se uma música
ao fundo; trata-se de um som metálico, quase mecanizado.
De repente, o inventor muda o tom de sua voz e
passa a dizer que ainda há uma chance para ele, que ele ainda irá vencer e daí
então ele é que vai rir do mundo. “Sim”, explica ele, “Ainda há uma chance para
mim porque na vida SEMPRE HÁ A SEGUNDA VEZ, SEMPRE EXISTE A SEGUNDA
OPORTUNIDADE. E eu conto com um grande aliado, o meu último invento A MÁQUINA
DO TEMPO.
Ao pronunciar estas palavras, apontando para a
máquina que está perto de si, soa uma música delirante, quase fúnebre. A
máquina é colocada como uma heroína de batalha, como uma tábua de salvação.
A uma ordem do seu senhor, o ajudante lhe traz uma
lista com dizeres grandes. Nesta lista estão escritas as coisas mais
importantes nas quais o inventor havia falhado na vida, segundo o que ele
acreditava. A lista é breve e objetiva:
DINHEIRO
FAMA
MULHERES
POSIÇÃO
Em todas estas coisas ele havia falhado. Não
conseguiu dinheiro, nem fama, as mulheres nunca tinham nem olhado para ele e
nem nunca usufruiu de uma posição que ele achasse digna.
Mas agora tudo iria mudar, pensava ele. Com sua
última invenção, nada poderia fazer com que ele não se tornasse rico, famoso,
cobiçado pelas mulheres e merecedor de uma posição de respeito e honra dentro
da sociedade.
O plano do inventor não era complexo, apesar da
complexidade da sua invenção. Era seu invento visitar o passado primeiramente,
em sua máquina e aproveitar o seu conhecimento sobre este passado para fazer
negócios que lhe pudessem render bastante. Por exemplo, se pudesse voltar há
uns 20, 30 ou mesmo 50 anos atrás poderia comprar terra que naquele tempo não
tinham validade, mas que ele sabia teriam, depois de um certo tempo. Poderia,
pensava ele, comprar as ações das companias que só ele sabia iriam se tornar
importantes; poderia investir em shows, poderia tornar-se amigo de pessoas do
passado que só ele sabia se tornariam importantes.
Com este pensamento em mente, ele decidiu a
partir-se: “Primeiro visitarei o passado para me tornar um super-homem” - dizia
ele - “E depois irei ao futuro para ver o quanto eu estarei famoso, rico e
benquisto nos anos vindouros”.
E assim sucede. Doze horas por dia ele passa a
sair em suas viagens pelo passado. Os controles da poderosa máquina lhe
permitem chegar ao ano que ele quiser e mesmo à hora exata no passado. A
máquina é agora idolatrada por ele. Além dele só existe a máquina, para ele,
neste mundo.
Ele pode ir e voltar do passado no instante que
quiser. Os controles da máquina o permitem. Por vezes, quando os negócios
rendem, ele fica 5 ou 6 horas num mesmo lugar. Outras vezes, ele volta logo,
dizendo que nada deu certo. Mas através de suas especulações, ele realmente
consegue coisas importantes. Compra ações, terras onde o petróleo irá brotar,
inventa instrumentos que só daí a vinte anos seriam inventados, visita pessoas
futuramente importantes, até na loteria, em corridas e sorteios ele joga e com
seu conhecimento, não deixa de ganhar.
“A fortuna que estou amealhando é incalculável” -
diz ele ao seu ajudante, quando retorna das viagens. “Por vezes não dá certo os
meus negócios, mas SEMPRE HÁ UMA SEGUNDA CHANCE, SEMPRE HAVERÁ UMA SEGUNDA
OPORTUNIDADE. Eu falhei a principio, mas na minha segunda vez eu não vou
falhar”.
O tempo passa, e com ele vai-se firmando a alegria
incontida do inventor. Ele agora não só faz especulações. Visita lugares
distantes, há duzentos, trezentos, às vezes mil anos atrás para presenciar a
história, e para, segundo ele, “aprender com os grandes homens do passado o
garbo, os modos, a atraência de um grande homem, como eu serei”.
Às vezes, até brincadeiras faz. Por exemplo, certa
vez ele mandou que o seu ajudante ligasse a máquina para o passado, mas ao
acaso, para que ele não soubesse prá onde estava indo. E assim sucedeu. Ele, ao
acaso foi lançado no passado, há 1973 anos atrás. E o que vê lá? Nada mais,
nada menos do que Jesus Cristo sendo espancado e obrigado a carregar a cruz nas
costas, em direção ao local de sua morte. O inventor se surpreende, mas em
seguida, faz com que seja trazido de volta ao presente.
Quando ele retorna o seu ajudante, surpreendido
lhe indaga o porque da sua volta repentina.
“Voltei a uma época, na qual eu não poderia ganhar
ou aprender nada. Imagine, fui lançado ao local onde este tal de Jesus Cristo
que a história fala estava sendo levado para ser crucificado”.
O ajudante fica estarrecido de surpresa. “Mas e
porque o senhor não disse aos que os estavam levando que aquele realmente é o
filho de Deus, como ficou conhecido depois da sua crucificação?” - pergunta ele
ao inventor. “O senhor sabia que o mundo inteiro descobriu depois que eles
estavam matando um inocente, que eles estavam matando o filho de Deus! Por que
não os impediu? Por que?”
“Ora,” - responde o inventor - “Não há tempo para
estas coisas. Eu preciso de tempo para mim, entendeu, para o meu futuro. Que é
que eu ganharia com isto? Hei? O que? Só complicação. E ademais eu sempre posso
voltar lá assim que eu quiser. Eu posso voltar lá sempre que eu quiser, se for
o caso, entendeu. SEMPRE EXISTE UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE, SEMPRE HÁ UMA SEGUNDA
CHANCE.
O ajudante baixou a cabeça. Tudo ficou por isso
mesmo. O incidente foi esquecido e o tempo passou depressa. As viagens ao
passado continuaram como dantes e o inventor sempre retornava com uma expressão
de contentamento.
Até que enfim chegou o dia supremo. Segundo o
inventor, de acordo com as fortunas que ele havia conquistado no passado, o seu
futuro seria grandioso. Ele estava pronto para, na sua idolatrada máquina do
tempo, ir ao futuro para ver a si mesmo, para ver a sua fortuna, os seus bens,
e depois, voltar ao presente e simplesmente esperar que os dias passassem para
que o seu brilhante futuro chegasse.
O inventor mostra-se ancioso e seu semblante
denota satisfação. Ele pede ao ajudante que lhe traga a lista das suas coisas
mais importantes. A lista é trazida. Nela, ainda se podem ler as palavras:
DINHEIRO
FAMA
MULHERES
POSIÇÃO
“Sim” - diz o inventor - “Agora eu vou ter tudo
isto: mulheres, fama, fortuna e posição, tudo isto”. “Agora” - continua ele -
“o mundo vai parar de rir dos meus fracassos e eu vou passar a rir do mundo. Eu
provarei ao mundo que para tudo EXISTE UMA SEGUNDA CHANCE, QUE SEMPRE HÁ A
SEGUNDA OPORTUNIDADE e que nesta segunda chance EU VENCI, EU VENCEREI”.
Ele dá ordem ao seu ajudante que acione os
controles da máquina em direção ao futuro.
O inventor leva consigo para esta primeira viagem
ao futuro a sua lista sagrada: MULHERES, DINHEIRO, POSIÇÃO, FAMA. Ele está
exultante.
“Ligue para 1985” - ele ordena - E a viagem
começa. Mas daí há instantes ele é trazido de volta. “É estranho” - diz ele -
“mas não havia nada lá”. “Vamos tentar novamente, ligue para 1980”.
Mas desta vez também nada havia. O inventor
surpreende-se. “É estranho” - diz ele - “Muito estranho”. “Vamos tentar ainda
uma vez mais, ligue para daqui há dois anos, ligue para 1975”.
Uma música lírica violenta cai sobre o palco. É o
clímax da história. O inventor é lançado ao ano de 1975 e ele se encontra
frente a frente com o mestre Jesus. Este está em meio à declinação destas
palavras:
“...Porque tive fome e me destes de comer; tive
sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedaste; estava nu e me vestistes;
era enfermo e me visitastes; preso e fostes ver-me. ...”
E o inventor, com a sua lista apertada entre os
braços é empurrado e arrastado para a esquerda de Jesus, enquanto o pano desce
e as palavras célebres, são ouvida:
Porque neste mundo o homem
poderá
Tentar muitas em muitas
vezes;
Porque neste mundo o homem
poderá
Falhar e recomeçar. E ele
terá uma
Duas, três chances.
Mas no reino de Deus, no
juízo de Deus
O homem que foi julgado e
colocado
À esquerda do Mestre, ao
final da luta,
Este não vai recomeçar. Vai penar
Por não ter encontrado o
caminho do céu
Ou por ter escolhido um
caminho outro,
Mais tentador, mas errado
e torto, para substituir
A verdade da vida.
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