O
DESTINO DA HUMANIDADE
De
José Carlos Broch; Adaptado por Everton Figur
Personagens:
O homem; a Doença; a Guerra; a Fome; a Morte; Guarda; Narrador
Cena
única:
Uma
praça deserta à noite. Um banco no meio do cenário, ao lado uma cesta de lixo
contendo o globo terrestre. Em primeiro plano, em uma das extremidades do
cenário, um poste de luz junto a uma caixa postal. Sentado na caixa está o
"Narrador" com um violão ou com fundo musical, há ruídos do cotidiano
de uma cidade.
NARRADOR:
Vou lhes
contar uma história / Um tanto inquietante. / Não é nada engraçado / Nem tão
pouco empolgante ... / É, quem sabe, uma fábula / Desagradável ... e bastante.
(Pausa)
Certa vez a humanidade / Em seu ritmo acelerado / Com a mente pesada / E
o olhar cansado, / Por uma praça passou. / Sem mais uma gota de capacidade / E
o juízo embriagado, / Com a moral arrasada / E o físico viciado / Por ali
descansou.
Entra
em cena o "Homem", caracterizado como um mendigo. Assenta-se sobre o
banco mas nisso chega um guarda, tipicamente vestido, e enxota o
"Homem" do banco, obrigando-o a descansar sobre a cesta de lixo. O
guarda se retira.
Narrador: (Cantando acompanhado do violão
ou declamando com fundo musical)
Num
momento o tempo para, / Os ponteiros não giram mais. / Os dias se perdem no
espaço / E as horas são iguais. / Porém o que o homem não sabia / É que nesta
noite, só não ficaria. / Aqueles que o destino dos humanos vão traçar / Esta
noite vão lhe acompanhar.
O
narrador toma um pergaminho e faz a leitura de Lv 26.25
Narrador:
- "... Enviarei a peste para o
meio de vós, e sereis entregues na mão do inimigo."
Os
ruídos cessam bruscamente. Entra em cena a "Doença". A
"Doença" tem a face amarelada e veste um longo manto branco. Carrega
um arco e uma flecha, tem uma cobra em uma das mãos e uma coroa em sua cabeça.
Senta-se no banco sem reparar no "Homem", intrigado com o estranho,
arrisca um diálogo.
Homem:
- Boa noite ..., senhor! Acaso te
conheço de algum lugar?
Doença: (dirigindo
o olhar para o homem)
- Sim...,
aliás eu já lhe devia ser familiar.
Homem: Eu não te reconheço, perdão mas devo ter esquecido.
Quem és tu?
Doença: Eu sou um espectro que vagueia sobre a terra,
sobre as colinas e vales e pelas serras, eu sou a dor de tua ferida. Querendo
ou não eu estou presente em sua vida, por mais que evite, eu estarei contigo.
Eu sou a doença.
Homem: Ora, a doença, não é a toa que eu te esqueci. Com
o avanço da minha ciência por muito tempo me afastei de tua presença. Há anos
tenho te mandado à distância.
Doença: Não cantes vitória antes do tempo, homem. Pois
ainda não conheces minha força. Não te glories tanto, tu ainda não sentiste
toda minha força, mas na consumação irás ver de que sou capaz.
Narrador: (lendo o pergaminho, trecho de
Apocalipse cap.6, v.4)
- "E
saiu outro cavalo, vermelho, e ao seu cavaleiro foi-lhe dado tirar a paz da
terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma
grande espada".
Entra
em cena "A Guerra". Está vestida como um soldado. Uniforme camuflado
e uma espada.
Guerra: (fincando a espada no chão)
Espero que não se incomodem se eu sentar junto de
vocês. Desculpem se não faço cortesia, mas não é de meu feitio.
Doença:
Quem és tu para me interromper com essa arrogância?
Guerra:
Eu? (levanta-se) Eu sou o senhor da ira e da violência, desde o dia que Satã
foi expulso do céu e pisou na terra, muito antes de Caim matar Abel e sujar a terra
de sangue eu existo e existirei até o dia do juízo final. Eu corro o mundo
espalhando rixas e hostilidade. Eu sou a guerra, que tira a paz da humanidade.
Homem:
Isso é balela, há muito tempo tenho me afastado de ti.
Guerra:
E quem és tu?
Homem:
Eu sou o homem!
Guerra:
Homem? E tu dizes não ter nada comigo? Eu sou o teu companheiro mais antigo.
Sempre que estás interessado nos bens de teu irmão, não é a mim que recorres?
Quando te zangas em vão, não é a mim que chamas? Tu dizes se afastar de mim?
Como podes me ignorar assim?
Homem:
Ora! Perturbar a humanidade você já não é capaz. Há tempos venho criando leis e
tratados de paz e também acordos de desarmamento.
Guerra:
Ah! Como se isso fosse suficiente. Tratado de paz é o álibi perfeito para
apunhalar seu irmão no escuro. Sabe, homem, que eu jamais serei esquecido,
disso tu podes ter certeza.
Narrador: (lendo o pergaminho, trecho de Ap
6.5-6)
-
"Então vi, e eis um cavalo preto e seu cavaleiro com uma balança na mão. E
ouvi como que uma voz no meio dos quatro seres viventes, dizendo":
Entra
em cena a "Fome" caracterizada com uma roupa esfarrapada, segurando
um saco de farinha.
Fome:
Um quilo de trigo por cinco reais; três quilos de cevada por dez reais!
Doença:
Mas quem é este estranho? Esta praça está ficando agitada!
Guerra:
Eu gosto de agitação, sempre posso usar minha espada.
Doença: (examinando o recém chegado) - De onde
tu vens?
Fome:
Eu vim da terra, venho de uma longa jornada, (senta-se), longa e exaustiva, mas
bem aproveitada.
Guerra:
Pareces muito cansado. Por onde tens viajado?
Fome:
Ora, por todo lado, venho andando através do tempo, desde a pré-história,
passei no Egito Antigo, foram tantos lugares que nem me lembro mais, mas foram
tantas andanças. Mas nem o tempo me desgastou, por mais que haja mudanças,
estou sempre disposto, sempre em atividade e os resultados são sempre
satisfatórios. Sem dificuldade. E.... quem é o vosso companheiro ali sentado?
Guerra:
É o homem!
Fome:
Homem? Logo percebi, com essa expressão de cão acuado. Cobrindo-se em trapos,
sem confiança, desorientado. Pobre criatura, que ser pavoroso.
Homem:
E como te chamas, Ó “Todo-poderoso”? (tom
de ironia)
Fome:
Mas que cabeça a minha, não me apresentei direito, pois bem, não sendo
pretencioso, mas na verdade sou um rei, o rei da miséria, da penúria e da
indigência, sou quem castiga com violência, você sabe o meu nome, eu sou a
fome.
Homem:
Fome? Tolice, minha geração mal te conhece. Tenho desenvolvido muito nossa
tecnologia, a agricultura evoluiu tanto que temos muita comida, tu ficaste no
passado. Nossa geração goza de fartura. Distribuímos alimentos a quem tem
carência, Vivemos bem graças ao nosso talento, enquanto tu morres no
esquecimento.
Fome:
Esquecimento? Isto até me causa tédio. Por acaso esqueceste de teus irmãos na
África?
Narrador: (canta acompanhado de violão ou
declama)
- Das
entranhas das trevas / Ouço um cavalo a galopar; / Em dorso um estranho cavaleiro...
/ Um espectro cavalgando no ar. / Ele vem de um breu profundo; / Dos abismos do
mundo. / Sua voz retumba: "Vim, vi e venci!" / Só ele diz e cumpre
com certeza / Pois do mal é alteza; / E traz o inferno atrás de si. / Ele se
põe no seu caminho
E lhe
deixa face a face com Satã / Dando-lhe oportunidade / De provar que sua fé não
é vã. / Porém se sua fé fraquejar / Ele se torna inimigo forte / Porque ele...
ele é a Morte.
(abre
o pergaminho e lê o trecho de Ap 6.8)
"...E
eis um cavalo amarelo e seu cavaleiro, sendo este chamado Morte: e o inferno o
estava seguindo".
Entra
em cena a "Morte" tendo a face alva, vestindo uma longa túnica preta
e carregando uma foice. O Homem se encolhe e esfrega as mãos; demonstra sentir
frio.
Morte:
- Boa Noite...
Doença,
Guerra e Fome se entreolham.
Doença: (confabulando com os outros) Quem é esta estranha criatura?
Homem:
Eu o conheço... é a morte, o pai da amargura.
Guerra:
(olhando com desdém) Morte? Desconheço quem seja?
Morte:
Não me reconheces? Sou teu Senhor, trabalhas sem saber para quem?
Guerra:
(irritado) Não trabalho para ninguém!
Morte:
Não sejas tolo, és meu servo, e você também (apontando para a fome) e você
(apontando para a doença) sem mim vocês não poderiam sustentar seus caprichos,
vocês dependem de mim. E você (apontando para o homem), razão da minha
existência, eu existo para mantê-lo sob meu poder.
Doença:
Espere...você só quer se promover, se o homem está subjugado a alguém, está a
mim e mais ninguém.
Guerra:
tolice, todos sabem que eu sou o mais poderoso.
Fome:
Difamar já é vergonhoso, se o homem sofre em tuas mãos, que dirá na minha.
Sejam sensatos, o mérito é todo meu.
Guerra:
Pois bem, o que dizer de minhas obras, lá em 1096, quando 400 mil cristãos eu
arrastei através da Ásia Menor? Eu os guiei dando início às cruzadas.
Doença:
Tolo, quando eles chegaram em Antioquia, eu me fiz presente.
Fome:
E quando os turcos os cercaram, eu estava lá e os abracei sorridente. Seus
lamentos de dor eu ouvi.
Morte:
(interrompendo-os) E por fim... suas almas eu acolhi.
Guerra:
(perdendo a calma) Isso é só o começo, ainda posso falar de Júlio Cesar, Nero,
Hitler, Sadam Hussein e outros que nem me lembro mais.
Doença:
O que dizer de Hitler? A mim ele também serviu, seu povo, seus soldados e os
judeus que ele perseguiu, todos eu embalei em meus braços.
Fome:
E eu os fiz em pedaços, torturei-os de forma brutal.
Morte:
E eu ceifei a cabeça de todos no final. Sejam sensatos, admitam de uma forma ou
de outra vocês trabalham para mim. Não adianta modificar ou interferir. Será
sempre assim, eu sou o senhor de vocês, eu sou o destino da humanidade.
Guerra:
Embora não gostei muito da ideia, reconheço que por tantos milênios servimos a
este ser, de forma involuntária, éramos por ele comandados. Seu poder é
visivelmente maior. Bem mais elevado.
Doença:
É verdade, reconhecemos que nossos poderes são iguais e os adquirimos para usarmos
contra criaturas normais.
Fome:
(voltando-se para o homem) Sim, para torturar a humanidade, essa espécie
arrogante.
Guerra:
E então homem, Concordas que não adianta relutar? Pode nos combater, mas não
podes nos evitar.
Doença: Não
podes nos deter.
Fome:
Tu não tens moral, nem valor. Tu és o causador de nossa existência. Caíste em
tentação, foste enganado pela serpente, comeste do fruto que lhe era proibido,
então entrou no mundo o pecado e o homem foi expulso do paraíso. A arrogância e
a soberba humana causaram guerras, fome, doenças e por fim, como consequência
do pecado: a morte.
Tu estás
indefeso e sabe disto. Que créditos tens a seu favor?
O
Homem vacila. Está confuso. Porém se lembra de algo que pode ser sua tábua de
salvação.
Homem: (retirando um crucifixo de suas vestes) Apenas a fé neste Cristo...que
venceu a morte e, com seu sangue nos lavou de todo o pecado. Pela fé neste
Cristo é que herdamos a vida eterna.
Todos
ficam imóveis. A "Morte" retira-se rapidamente, em seguida os outros
três seres. Por fim sai o "Homem".
Narrador:
O homem é culpado de todas as guerras, fome, doenças, em consequência de
seu pecado. Mas Deus não nos abandonou,
prometeu-nos um Salvador e, de fato, nos enviou este Salvador: Seu próprio
filho, Jesus Cristo.
(Abre o
pergaminho e lê a passagem de Romanos 5.1,2)
“Portanto,
havendo sido justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio do nosso Senhor
Jesus Cristo, por intermédio de quem obtivemos pleno acesso pela fé a esta
graça na qual agora estamos firmados, e nos gloriamos na confiança plena da
glória de Deus.”
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