sábado, 2 de maio de 2015

LAVA-PÉS: PARA UMA “IGREJA DA TOALHA”

LAVA-PÉS: PARA UMA “IGREJA DA TOALHA”
“Cristo monumentou a Humildade quando beijou os pés dos seus discípulos” (Manoel de Barros)
O gesto do “lava-pés” é paradigmático para todo seguidor de Jesus Cristo; constitui um dos gestos mais expressivos da missão e da identidade para aqueles que exercem algum serviço em sua comunidade.
É revelação e ensinamento. É amor e mandamento. É gesto-vida, gesto-horizonte, gesto-luz…
Não podemos amar alguém e olhá-lo de cima. Não se trata também de se “humilhar”, de se colocar “abaixo” de seus pés, mas de cuidar de seus pés para que esse alguém possa se manter de pé, para que ambos possam estar face a face e caminhar juntos.
Jesus sabia que seus discípulos tinham pés frágeis, pés de argila. Amar alguém não é querer que ele fique deitado a seus pés, mas é querer que ele se mantenha de pé em toda sua grandeza, na plenitude de sua grandeza. Amar alguém é querê-lo com os pés “livres, leves e soltos”. Lavar os pés é gesto de humaniza-ção e gesto humanizante. É devolver ao outro a dignidade e capacidade de dar destino à sua vida.
O Evangelho de S. João substitui a instituição da Eucaristia pelo Lava-pés (Jo. 13,1-20).
Audaciosa inovação que dirige o gesto eucarístico para a revolução das relações humanas: o poder do Senhor se converte em capacidade para servir; a autoridade não se exerce submetendo o outro, mas possibilitando que o outro “seja”.
Jesus deixa transbordar os segredos de seu coração. Ele revela o rosto de Deus, que é Amor.
Com este gesto Jesus des-vela uma imagem nova de Deus: o Todo-poderoso desligitima toda e qualquer expressão de poder e submissão entre os humanos.
A cena do lava-pés revela profundidade e delicadeza, mútuo dom e acolhimento, comunhão e pressentimento. É um gesto profético, repleto de generosidade e de humildade.
Ninguém serve a Deus, a não ser do jeito de Jesus, isto é, lavando os pés, amando até o fim.
Nosso Deus não é prepotência, mas condescendência. É o Criador que se põe aos pés da criatura.
Nosso Deus é um Deus que “desce”, que se “inclina” para acolher.
Mistério da Encarnação: Deus abraçando e sendo encontrado junto aos pés dos seus filhos(as).
O “descendimento” do Senhor aos pés dos discípulos e fazendo-se servidor, transforma o status da servidão (“o servo não sabe o que faz seu senhor”- Jo. 15,15) em fraternidade (“não vos chamo servos, mas amigos – Jo. 15,15).
Deste modo se mostra o verdadeiro senhorio de Jesus: a possibilidade de resta-belecer a igualdade entre as pessoas através da superabundância de um amor que se derrama, sem reservas, para todos. Este gesto provocativo de serviço e despo-jamento d’Aquele que é “Senhor” desperta em cada seguidor o desejo de consi-derar suas qualidades e capacidades como veículos de doação, não de poder ou de manipulação. A partir deste “ousado gesto” já não se justifica nenhum tipo de superioridade, mas somente a relação pessoal de irmãos e amigos.
A reação de Pedro expressa bem o escândalo que este gesto produz, porque Jesus revela que a autoridade -  ser Senhor – é um serviço, não uma dominação.
Pedro fica desconcertado e em dilema. Sua imagem do Messias seguro e vence-dor não combina com a vulnerabilidade de um servo.
O gesto do lava-pés é repleto da “espiritualidade do cuidado”.
O cuidado é um diálogo de presenças, não só de palavras. São seres  “vulneráveis” que dialogam.
O cuidado é expressão de ternura e delicadeza. É atenção às pessoas; é gesto de inclusão.
O cuidado é gesto amoroso para com o outro, gesto que protege e traz serenidade e paz.
O amor é a expressão mais alta do cuidado, porque tudo o que amamos cuidamos. E tudo o que cuidamos  é um sinal de que também amamos. Cuidar é envolver-se com o outro ou com a comunidade de vida, mostrando zelo e preocupação. Mas é sempre uma atitude de benevolência que quer estar junto, acompanhar e proteger; é ter espírito de gentileza e ternura para captar e sentir o outro como outro, como original, e acolhe-lo na sua diferença.
Lava-pés não é teatro, mas modo habitual de proceder e de estar no mundo. 
Texto bíblico:  Jo. 13,1-17
Na oração: Como posso vivenciar, no cotidiano, a beleza e o cuidado revelados no gesto do lava-pés?


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