sábado, 2 de maio de 2015

O HOMEM E OS 4 CAVALEIROS DO APOCALIPSE

O HOMEM E OS 4 CAVALEIROS DO APOCALIPSE
Escrita por José Carlos Broch - Porto Alegre - 1983 – RS
Adapt. Por Élvio Nei Figur em 2008 para o Grupo ‘Arteiros de Cristo’
Personagens:
O Homem; A Doença; A Guerra; A Fome; A Morte; Narrador; Guarda;
Cena Única:
Uma praça deserta à noite. Um banco no meio do cenário, ao lado uma cesta de lixo contendo o globo terrestre. Em primeiro plano, em uma das extremidades do cenário, um poste de luz junto a uma caixa postal. Sentado na caixa está o "Narrador" com um violão ou com fundo musical, há ruídos do cotidiano de uma cidade.
Narrador: (Com ar de debochado)
Vou lhes contar uma história / Um tanto inquietante. / Não é nada engraçado / Nem tão pouco empolgante ... / É, quem sabe, uma fábula / Desagradável ... e bastante.
(Pausa)
Certa vez a humanidade / Em seu ritmo acelerado / Com a mente pesada / E o olhar cansado, / Por uma praça passou. / Sem mais uma gota de capacidade / E o juízo embriagado, / Com a moral arrasada / E o físico viciado / Por ali descansou.
Entra em cena o "Homem", caracterizado como um mendigo. Assenta-se sobre o banco mas nisso chega um guarda, tipicamente vestido, e enxota o "Homem" do banco, obrigando-o a descansar sobre a cesta de lixo. O guarda se retira.
Narrador: (Cantando acompanhado do violão ou declamando com fundo musical)
Num momento o tempo para, / Os ponteiros não giram mais. / Os dias se perdem no espaço / E as horas são iguais. / Porém o que o homem não sabia / É que nesta noite, só não ficaria. / Aqueles que o destino dos humanos vão traçar / Esta noite vão lhe acompanhar.
O narrador toma um pergaminho e faz a leitura de Lv 26.25
Narrador: - "... Enviarei a peste para o meio de vós, e sereis entregues na mão do inimigo."
Os ruídos cessam bruscamente. Entra em cena a "Doença". A "Doença" tem a face amarelada e veste um longo manto branco. Carrega um arco e uma flecha, tem uma cobra em uma das mãos e uma coroa em sua cabeça. Senta-se no banco sem reparar no "Homem", intrigado com o estranho, arrisca um diálogo.
Homem: - Boa noite ..., senhor! Acaso vos conheço de algum lugar?
Doença: (dirigindo o olhar para o homem)
- Sim..., aliás eu já lhe devia ser familiar.
Homem: - És por mim conhecido...? / Perdão, mas já devo tê-lo esquecido. / Quem sois vós?
Doença: - Eu sou um espectro / Que vagueia solto pela terra. / Enviado para percorrer a vida dos homens / Por sobre os vales / Acima das colinas / E por entre as serras. / Eu sou a dor da tua ferida, / A moléstia do teu corpo, / O mal da tua vida.
Queiras ou não, em tua vida / Terás a minha presença. / E por mais que me evites estarei contigo, / Porque eu... eu sou a doença.
Homem: - Ora, então sois vós a Doença... / Não é à toa que vos esqueci, / Pois há muito me afastei da tua presença. / Confesso que por anos me preocupaste, / Mas graças ao meu esforço e à minha ciência / Há anos te mantenho à distância.
Doença: - Não cantes a vitória a vitória antes do tempo / Pois ainda não conheces toda a minha força. / Não solte glórias ao vento / Pois tenho trunfos na manga. / Ainda não sentiste todo o meu poder / Mas na consumação dos tempos irás ver.
Narrador: (lendo o pergaminho, trecho de Apocalipse cap.6, v.4)
- "E saiu outro cavalo, vermelho, e ao seu cavaleiro foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma grande espada".
Entra em cena "A Guerra". A "Guerra" tem os olhos escurecidos em roxo pela ira. Veste-se de pelos, firmados ao corpo por um grande cinturão. Sobre a cabeça tem um elmo com chifres, carrega uma espada e um escudo circular. Chega-se à frente do palco, olha para os lados e em seguida senta-se.
Guerra: (fincando a espada no chão)
- Espero que não façam objeção / Se eu me sentar junto de vós; / Desculpe se não lhes faço cortesia / Mas não cometo tal heresia.
Doença: - E quem sois vós para interromper-me / Com tamanha arrogância?
Guerra: - Eu?... (levanta-se e caminha pelo palco) / Eu sou o Senhor da ira e da violência. / Desde o dia em que Satã foi expulso do céu / E pisou na terra, eu sou. / Muito antes de Caim matar Abel / E sangrar a terra, eu estou; / E aqui ficarei até o juízo. / Sou eu quem corre o mundo / Semeando rixas e hostilidade.
Eu sou a Guerra... que tira a paz da humanidade.
Homem: (Interrompendo)
- Isto é novela... / Há muito tempo me afasto de... (sorri ironicamente) "Vossa Excelência"!...
Guerra: (com deboche)
- E quem é "Vossa Magnificência"?
Homem: - Eu sou o Homem!
Guerra: (fingindo surpresa)
- Homem?!... E tu dizes nada ter comigo... / Eu que sou teu companheiro mais antigo...
Sempre que te interessas pelos bens de teu irmão, / Não sou eu teu primeiro aliado?
Mesmo quando te irritas em vão, / Não sou eu o primeiro a ser chamado?
Tu dizes te afastar de mim?... / Como podes me ignorar assim?
Homem: - Ora... perturbar a humanidade você já não é capaz. / Há muito tempo venho criando leis pacifistas, / Por anos venho assinando tratados de paz / E, também, acordos desarmamentistas.
Guerra: - Ah!... como se isso fosse o suficiente / Para eu ser esquecido...
Um tratado de paz é um álibi perfeito / Para poder apunhalar teu irmão no escuro.
Saiba, homem, que eu jamais serei vencido; / E disso você pode estar seguro.
Narrador: (lendo o pergaminho, trecho de Ap 6.5-6)
- "Então vi, e eis um cavalo preto e seu cavaleiro com uma balança na mão. E ouvi como que uma voz no meio dos quatro seres viventes, dizendo":
Entra em cena a "Fome" caracterizada como um burguês da França do século XVIII. Casaca vermelha, colete e meias brancas com fitas vermelhas, calças pretas e sapatos com fivela. Tem uma cartola preta sobre a cabeça e carrega uma balança em uma das mãos.
Fome: (mexendo em um punhado de trigo que traz na balança)
- "Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho".
Doença: - Mais um forasteiro... / Esta praça está ficando muito agitada.
Guerra: - Eu gosto de agitação... / Sempre posso usar minha espada.
Doença: (examinando o recém-chegado)
- De onde vens?
Fome: - Eu venho da terra; / Venho de uma longa jornada... (senta-se) / Longa e exaustiva, / Mas bem aproveitada.
Guerra: (sentando-se)
- Pareces cansado... / Por onde tens viajado?
Fome: - Ora... por todo lado... / Venho perambulando pelo tempo / Desde a pré-história, / Passando pelo Egito antigo... / Até me falha a memória. / Tendo estado em tantos lugares, / Foram tantas as andanças... / Mas nem isto, nem o tempo me desgastou, / Por mais que haja mudanças. / Estou sempre disposto. / Sempre em atividade; / E os resultados são sempre satisfatórios... / Sem dificuldade. (Pausa) / E... quem é o vosso companheiro ali sentado?
Guerra: - É o Homem...
Fome: - Homem?... Logo percebi. / Com essa expressão de cão acuado, / Cobrindo-se de trapos, / Sem confiança,... desorientado... / E engolindo sapos. / Pobre criatura... seu estado é pavoroso.
Homem: (indignado)
- E como te chamas, "Todo-Poderoso"?
Fome: - Mas que falta a minha... / Ainda não me apresentei. / Pois bem, ainda há tempo. / Não é pretensão, mas na verdade sou um rei; / O rei da miséria, da penúria e da indigência. / Eu sou aquele que castiga sem violência. / Você bem sabe o meu nome, / Você me conhece... eu sou a Fome.
Homem: - Fome? Tolice. Minha geração já não te conhece. / Você é um fantasma do passado. / A humanidade aos poucos te esquece / E te deixa isolado. / Hoje incrementamos a agricultura, / Desenvolvemos nossos meios de subsistência, / Nossa geração goza de fartura / E distribuímos alimentos a quem tem carência. / Vivemos bem graças ao nosso talento / Enquanto que você... morre no esquecimento.
Fome: (fazendo drama)
- Morro no esquecimento? / Isso até me causa tédio. / Posso dizer o mesmo de teus irmãos / Da África e América Latina.
Narrador: (canta acompanhado de violão ou declama)
- Das entranhas das trevas / Ouço um cavalo a galopar; / Em dorso um estranho cavaleiro... / Um espectro cavalgando no ar. / Ele vem de um breu profundo; / Dos abismos do mundo. / Sua voz retumba: "Vim, vi e venci!" / Só ele diz e cumpre com certeza / Pois do mal é alteza; / E traz o inferno atrás de si. / Ele se põe no seu caminho
E lhe deixa face a face com Satã / Dando-lhe oportunidade / De provar que sua fé não é vã. / Porém se sua fé fraquejar / Ele se torna inimigo forte / Porque ele... ele é a Morte.
(abre o pergaminho e lê o trecho de Ap 6.8)
"...E eis um cavalo amarelo e seu cavaleiro, sendo este chamado Morte: e o inferno o estava seguindo".
Entra em cena a "Morte" tendo a face alva, vestindo uma longa túnica preta e carregando uma foice. O Homem se encolhe e esfrega as mãos; demonstra sentir frio.
Morte: - Boa Noite...
Doença, Guerra e Fome se entreolham.
Doença: (confabulando com os outros)
- Quem é esta estranha criatura?
Homem: - Eu o conheço... É a Morte: o pai da amargura.
Guerra: (olhando a "Morte" com desdém)
- Morte? ... Desconheço quem seja.
Morte: - Não reconheces o teu senhor? ... Ora veja... / Um servo tão fiel, / Trabalha sem saber para quem.
Guerra: (irritado)
- Não trabalho para ninguém!
Morte: - Não seja tolo... És meu servo. / E você também... (aponta para a Fome) / E você. (aponta para a Doença) / Sem mim vocês não poderiam sustentar seu ópio. / Sem mim vocês viveriam no ócio. / Vocês são de minha dependência, / (aproxima-se do "Homem") / E você... A razão de minha existência. / Eu existo para mantê-lo sob meu poder.
Doença: - Espero, você quer se promover. / Se o homem está subjugado a alguém / Está a mim e a mais ninguém.
Guerra: - Tolice... Todos sabem que sou mais poderoso.
Fome: - Difamar já é vergonhoso... / Se o Homem sofre em tuas mãos, que direi eu? / Sejam sensatos; o mérito é meu.
Guerra: - Pois sim! E o que dizer de minhas obras? / Dominei a mente de vários homens / E estive em suas manobras. / Em 1096 quatrocentos mil cristãos eu arrastei / Através da Ásia Menor eu os guiei / Dando início às Cruzadas.
Doença: - Palavras desperdiçadas! / Quando eles chegaram à Antioquia / Eu também me fiz presente.
Fome: - E quando os turcos os cercaram / Eu os abracei sorridente. / Seus lamentos de dor eu ouvi.
Morte: (intrometendo-se)
- E, por fim... suas almas acolhi.
Guerra: - Ainda tenho muitas histórias para contar... / Napoleão, para começar, / Promoveu meu nome por Marongo, Ulm, Austerlitz, Waterloo e muitos outros lugares.
Fome: - Também estive lá, mesmo sem notares.
Doença: - E eu os acompanhei.
Morte: (provocando)
- Por fim, somente eu reinei.
Guerra: (perdendo a calma)
- Isso é só o começo. / Ainda posso falar de Júlio César, Nero, Hitler, Sadam Hussein e outros homens que até me esqueço.
Doença: - O que dizer sobre Hitler? / A mim ele também serviu. / Seu povo, seus soldados / E os judeus que ele perseguiu. / Todos estes eu embalei em meus braços.
Fome: - E eu os fiz em pedaços, / Torturando-os de uma forma cabal.
Morte: (completando)
- E eu ceifei suas cabeças no final. / Sejam sensatos, embora não queiram admitir, / De uma forma ou de outra vocês trabalham prá mim. / Não adianta modificar ou intervir;
Isto sempre será assim. / Eu sou o vosso amo, / O Senhor das Trevas, / O Mal Supremo. / Eu sou o Destino da Humanidade, / O Inferno me acompanha, / E assim será por toda a eternidade.
Guerra: - Embora não goste da idéia, / Tenho que reconhecer: / Por todos estes milênios / Servimos a este ser. / De uma forma involuntária e inconsciente / Éramos por ele comandados / E seu poder é visivelmente superior... / Bem mais elevado!
Doença: (colocando as mãos sobre os ombros da "Guerra" e da "Fome")
- E evitando maiores discussões, reconheçamos: / Nossos poderes são iguais / E os adquirimos para usarmos / Contra criaturas normais.
Fome: (voltando-se para o "Homem")
- Sim... para torturar a humanidade, / Essa espécie arrogante. / A demagoga majestade / De um mundo elegante.
Guerra: - E então, homem? Concorda que não adianta relutar? / Você não pode nos combater. / Você não pode nos evitar.
Doença: - Você não pode nos deter!
Fome: - Você não tem estima e nem valor. / Você está indefeso e sabe disto. / Que créditos você tem a seu favor?
O Homem vacila. Está confuso. Porém se lembra de algo que pode ser sua tábua de salvação.
Homem: (retirando um crucifixo de suas vestes)
- Apenas a fé neste Cristo...
Todos ficam imóveis. A "Morte" retira-se rapidamente, em seguida os outros três seres. Por fim sai o "Homem".
Narrador: (lendo o pergaminho, trecho de Jeremias 15.2,3 e 6)
- "Quando te perguntarem: Para onde iremos? Dir-lhes-ás: Assim diz o Senhor: O que é para a morte, para a morte"; (volta à cena a "Morte") "... o que é para a espada, para a espada"; (volta à cena a "Guerra") "... o que é para a fome, para a fome"; (volta à cena a "Fome") "... o que é para o cativeiro, para o cativeiro"; (volta à cena a "Doença") "Porque os punirei com quatro sortes de castigos, diz o Senhor: com espada para matar, com cães para os arrastarem, e com as aves dos céus e as feras do campo para os devorarem e destruírem". (aponta para a platéia) "Tu me rejeitaste, diz o Senhor; voltaste para trás; por isto levantarei a minha mão contra ti, e te destruirei; estou cansado de ter compaixão". (fecha o pergaminho)
Narrador: (continuando)
- Contra a santa ira de Deus há somente um escudo. Você sabe qual é? Você o tem?


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