sábado, 2 de maio de 2015

PRECISA-SE DE UM EMPREGADO

PRECISA-SE DE UM EMPREGADO

Personagens:  Florêncio - Patrão
                        Argolido - Candidato ao emprego

Florêncio: (Vendo um anúncio de jornal)  -  Precisa-se de um empregado.  Tratar com Florêncio, na rua sobe e desce, o número não aparece, quarto piso de cima para baixo, não subir no elevador porque fica no térreo (deixando de lado o jornal) - Pois é!  A verdade é essa: preciso dum empregado, senão o filho do meu pai morre dando duro.  Mas não é qualquer João ninguém que vai trabalhar comigo.  O candidato vai ter que me responder muita coisa antes de pôr os pês no serviço.  Começo que tem ser limpo...

Argolino: - (entra de chapéu na cabeça) - embora não esteja com os pés limpo, com licença!

Flo:  (muito admirado) - Mas como? De chapéu na cabeça? Vai entrando assim?

Arg: o Senhor se admira que o chapéu esteja na cabeça?  Por acaso o Senhor usa no pé?

Flo: Quem é você?

Arg: Eu? Muito me honreia ser eu mesmo:  Argolino de nome e pastelão de apelido.

Flo: Parece que já a sua cara em algum outro lugar...

Arg: você tá muito enganado:  desde que eu nasci minha cara sempre esteve em cima do pescoço.

Flo: Afinal, o que deseja?

Arg: Não se confunde ovo com ovos, seu chefe.  Não sou esmoleiro para vim querer alguma coisa.  Eu vim por modo dum aviso que eu vi no jornal que o senhor precisa dum criado inteligente com cultura científica e trabalhador. Aqui estou eu.

Flo: Se você é inteligente me diga quem foi o primeiro imperador do Brasil?

Arg: Não sei, não sou daqui, sou do Paraguai.

Flo: Você é casado?

Arg: Pelo vigário e pelo governo.

Flo: Com quem?

Arg: Com minha mulher, claro.

Flo: Quanto filhos você têm?

Arg: Tenho três, e para lhe mostrar a sabedoria na língua brasileira, todos os nomes em ordem alfabética: quer ver? Anrique, Bicente e Cabastião.

Flo: Todos atrasados como você?

Arg: não. Tem um mais burro que mim.

Flo: Fale o português correto, seu moço: é mais burro que “eu”.

Arg: Isso mesmo, mais burro que o senhor.

Flo: Educação, seu moço!  Se eu fosse seu pai, você ia ver!

Arg: Se o problema é esse, é fácil de resolver:  minha mãe é viúva... ainda mais que o senhor é um homem intelijumento, fino e sabido...

Flo: Sinto não poder dizer o mesmo de você.

Arg: Faça como eu: minta ( puxando  o palheiro).  Te incomoda o fumo?

Flo: Sim

Arg: Então vai se retirando porque eu vou fumar.

Flo: Poxa, você é chato mesmo.

Arg:  Não ligue! Fiquei assim depois de uma operação que me deixou meio idiota...

Flo: Então melhorou muito de pois da operação, não é?

Arg: Olha, ainda estou sentindo alguns ruídos na cabeça.

Flo: Isso é impossível...

Arg: Porque?

Flo: porque o ruído não se propaga no vácuo... Bem, mas o que você trabalhava antes?

Arg: Eu tinha um emprego de alta patente, tinha um serviço elevadíssimo.

Flo: (admirado) - É mesmo? Onde é que trabalhava?

Arg: Tinha um serviço muito elevado, pois eu trabalhava no último andar dum edifício de 30 pisos, arrumando as caixas das patente...

Flo: Quantas horas você trabalhava por dia?

Arg: Vinte e cinco horas por dia.

Flo: (Chateado) De que jeito se o dia só tem vinte e quatro horas?

Arg: é que eu levantava mais cedo.

Flo: Qual é o seu grau de instrução?

Arg: Cem grau, depois começo a ferver.

Flo: Mudando de assunto, você sabe nadar?

Arg: Sei.

Flo: onde é que aprendeu?

Arg: Na água.

Flo: é coisa séria!  Bem, mas para trabalhar comigo, o sujeito ao menos tem que ser valente.

Arg: Deixe pra mim(entusiasmado). Olha, um dia desses, de note, fui caça. Fui mato adentro derepente vi uma onça pintada a três metros de mim.

Flo: (assobrado) E não fugiu.

Arg: fugi? Pra que? Não vê que era uma onça pintada numa tábua?

Flo: Isto não é valentia (zangado).

Arg: Ah! O Senhor quer ver valentia mesmo? Escute.  Não vê que numa noite escura, eu ia chegando na beira dum rio quando, menino das corujas, eu vi uma, mas era uma enorme duma jibóia que a princípio pensei que fosse um tanque de gasolina.  Mas quando a danada armou o bote...

Flo: Que foi que você fez?

Arg: Entrei no bote e atravessei o rio.

Flo: ( decepcionado) Você é um embrulhão?

Arg: Pois eu estou falando sério, seu Florêncio!  Me vi louco da vida.  A cobra se trançou em mim, me deu uma tamanha gravata no pescoço que...

Flo: E você?

Arg: Peguei a gravata e amarrei o nó que estava mal feiro.  Quando a cobra arreganhou as pressas e veio pro meu lado, nem queira saber, taquei-lhes alguns socos daqueles e me libertei das presas... Mas aí a bicha virou tigre.  Abriu a boca que parecia duas gamelas e me engoliu.

Flo: E você não morreu?

Arg: Morri, dessa vez eu morri.

Flo: Chega! Você é ignorante, atrasado, mentiroso...  você não serve.  Pode ir embora.

Arg: (triste) É, esta vida é uma cebola que se descasca chorando.  Estou desesperado, se foi o emprego.  Eu te juro seu Florêncio, que se eu soubesse de alguma coisa que me matasse num golpe eu me suicidaria.

Flo: Tome cerveja com formicida e vai pro diabo, viu?

Arg: Tá certo, mas o diabo é que a cerveja me ataca os rins é o fígado.

Flo: Não temos mais conversa.  Não preciso mais de empregado.  Antes só do que mal acompanhado.  Até logo.


Arg: (saindo) Até logo. É assim mesmo: pobre só vai pra frente quando tropica...

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